Quando aprenderemos o que é ir longe demais?

Na última sexta (11), a cantora britânica, Rita Ora, lançou nas plataformas digitais seu novo single intitulado Girls. Ao lado de Bebe Rexha, Charli XCX e Cardi B, elas cantam sobre como “as vezes” querem beijar garotas. Em primeira instancia, meus olhos normais de um integrante da comunidade LGBTQ+, não veem maldade alguma em sua letra. Na verdade, eu até grito alguns YAAAAS’s enquanto ouço a faixa em um looping por algumas horas, mas não demorou para que algumas pessoas se pronunciassem. Afinal de contas, uma mulher falar abertamente sobre suas experiências sexuais, por algum motivo que desconheço, ainda é visto como um tabu.

O motivo do burburinho, é que algumas pessoas se sentiram “ofendidas” ao ouvir a música, que é o caso da cantora Kehlani, que publicou uma nota dizendo que a música faz um desserviço à comunidade LGBTQ+, ao retratar um relacionamento LESBICO de forma “provocante ao olhar masculino” (¿). Ela ainda se estende em dizer que nunca em sua vida precisou de um copo de vinho tinto para amar outra mulher, fazendo alusão a letra de Rita em que ela canta “Red wine, I just wanna kiss girls” (Vinho tinto, eu só quero beijar garotas).

O tweet de Kehlani seguiu por algumas aclamações de diversos fãs e também alguns “famosos”, como Hayley Kiyoko, que quotou o tweet adicionando um breve comentário “Real Talk.” (em tradução livre, “papo reto”). Seguidos é claro de milhões de RTs e alguns tweets dizendo como isso não tinha nada pessoal com as artistas envolvidas e como ela gostaria de trabalhar com todas, e estava apenas se pronunciando sobre algo que a incomodou.

O escândalo não demorou a bater na porta de Rita, afinal, como diz o ditado “Noticia ruim chega rápido.”, que procedeu então para postar uma nota em que ela, basicamente, pede DESCULPAS (!!!!) por escrever uma música sobre suas experiências vividas. Na nota ela disse que nunca teve a intenção de ferir os sentimentos de ninguém e que a música falava apenas sobre sua experiência pessoal como membro da comunidade LGBTQ+, e que se sente muito triste por se quer pensar que possa ter feito algo que irá denegrir a imagem da comunidade pela qual sempre lutou.

Agora vamos aos fatos:

Rita inicia a música, que em seu segundo verso diz: I ain’t one-sided, I’m open-minded / I’m fifty-fifty and I’m never gonna hide it / You should know, eh (Eu não sou apenas um lado, tenho a mente aberta / sou “50/50” e nunca esconderei isso / você deveria saber). Onde basicamente afirma sua bissexualidade, que pra quem não conhece, é a letra B em LGBTQ+. A música segue contando sobre este verão e suas aventuras com essa garota chamada Lara, e transita para o bridge cantado por Charli, onde ela diz: And last night, yeah, we got with the dude / I saw him, he was lookin’ at you / So I said hey (Ontem a noite ficamos com um cara / Eu o vi, ele estava te olhando / Então eu disse “ei”). Onde, mais uma vez, é mencionado o fato de que NESTA narrativa, NESSA situação, estaríamos tratando com personagens bissexuais.

Sometimes, I just wanna kiss girls, girls, girls / Red wine, I just wanna kiss girls, girls, girls (As vezes eu quero beijar garotas / Vinho tinto, eu só quero beijar garotas). As vezes, “é uma expressão que se usa quando não se sabe ao certo a frequência de uma coisa”. Novamente, Bissexualidade. Quanto ao vinho tinto, eu creio que quem quer que seja que tenha interpretado isso como algo implicando que qualquer uma delas precisou estar bêbada para ficar com alguma garota, foi muito além do que quem de fato escreveu a letra deve ter ido.

Assim como na letra de “I Kissed a Girl”, de Katy Perry, ela diz que o brilho labial sabor cereja é algo que a agrada em uma garota não define que Perry beije apenas meninas que usem brilho labial sabor cereja, o fato de uma rima boba em um refrão estrategicamente pegajoso, não deveria limitar a verdade de ninguém. Isso porque Kehlani é também uma compositora.

Por fim, é essencial afirmar que, muitas vezes as pessoas em uma mesma comunidade (ou mesmo fora dela), podem ter experiências diferentes em relação à o amor, sexualidade e relacionamentos, e está tudo bem. O fato de alguém descrever suas experiências, que são claramente diferentes das suas, não devem ser um fator para “denegrir” a imagem de todo um conjunto. E muitas vezes, mesmo nos dizendo uma unidade, os participantes do movimento LGBTQ+ preocupam-se apenas com a sua letra designada na sigla, acabando mais divididos do que se estivéssemos separados.

Atenção: Este não é um texto imparcial, apresento minha visão como pessoa e também argumentos. Todos e quaisquer argumentos contra são bem-vindos, afinal, não sou dono de uma verdade absoluta.